segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A POETISA ELEITA

Postado por Tatiana em 7.12.09 2 comentários
Quero abrir este blog com um post em homenagem à Florbela Espanca (1894-1930), poetisa portuguesa cuja obra foi marcada por temas como sofrimento, tristeza, amor e anseio pela felicidade, talvez como reflexo de sua conturbada vida particular. Além dessas características, verificamos também em sua obra a presença de uma forte carga de erotismo e feminilidade, desvelando dessa forma, os sentimentos e a intimidade feminina fortemente reprimidos, pois, durante séculos a mulher foi estritamente relegada à esfera do privado, enquanto que o homem era associado ao espaço público, portanto, não convinha publicizar os recônditos femininos, tal qual o fez Florbela. E ela o fez tão perfeitamente que a crítica a considera como uma das maiores figuras femininas da literatura portuguesa do início do século XX, apesar de seus contemporâneos não atribuirem a ela o devido reconhecimento, por vezes tratando seu trabalho de forma preconceituosa. Por tudo isso, ela é uma das minhas escritoras favoritas e sua obra merece notoriedade. O soneto a seguir é intensamente marcado pelo erotismo feminino e trata-se de um dos meus prediletos. Viva a "poetisa eleita"! Viva Florbela Espanca!

CHARNECA EM FLOR

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
 

Recônditos Femininos Copyright © 2010 Designed by Ipietoon Blogger Template Sponsored by Online Shop Vector by Artshare